terça-feira, 17 de abril de 2012

MALDITA CHAMPANHA - Capítulo 13


Capítulo 13

Maquiagem refeita, ou feita, afinal eu tava um desastre que pior que Iraque depois da invasão com homens bomba espalhados pelo meu corpo prestes a explodir e me detonar de vez. Combino com Quico que, aconteça o que acontecer, os dois vão se divertir, afinal, é sexta, dia mundial do fiasco, e pior do que está não fica, não é? Fica. João ligou para avisar que não tinha chegado chaveiro nenhum. Sua voz começa a passar um tom de desespero. Sua mulher chegaria às três da tarde, a conexão atrasou o voô que fazia escala em São Paulo e ela demoraria um pouco mais. Desligo e tento encontrar o chaveiro. Não atende. Ligo de novo, uma mulher atende. O que? Mulher dele? Tá no hospital e quebrou a perna? Não pode! De todos os chaveiros de Porto Alegre tenho que chamar logo um que bate num táxi e quebra a perna?

Paulo me espera na sacada de sua sala. A sala originalmente não tinha sacada. Ele mandou fazer. Só para fumar. Me chama. Peço um cigarro dele. Desses lights. Paulo está na crise do cinqüentão. Fuma cigarro light. Caminha no fim da tarde no parque sem camisa. Separado, vai em bares à procura de idiotinhas incautas ou aproveitadoras cretinas. Ele não se importa. Resume tudo com um "fazer o que?" Paulo é assim. Fazer o que? Ele precisava de mim para fechar o negócio e aumentar consideravelmente o faturamento da agência. Pagar mais para suas duas ex e para suas três filhas. Sempre foi um cretino. Não seria agora que deixaria de ser. Muitas pessoas nunca deixam de ser. Eu jamais fui. Sou Marina e gosto de falar na cara.

Na cara eu falo logo que estou com problemas, fui assaltada, quebrei o salto, não consigo pegar meu carro e não falo que tenho um homem que não lembro quem é com quem certamente trepei depois da festa de ontem trancado no meu apartamento. Que o homem é casado e quer que eu vá buscar a mulher dele no aeroporto. Enfim, uma história muito comprida e confusa. Só a parte do assalto já o cansou. Ele acende o meu cigarro e pergunta se eu voltei a fumar. Sim. Não. Sim e não. Só hoje, respondo. Ele sorri. Se fecharmos este contrato tuas contas desse mês ficam por minha conta, responde Cocó, num acesso de bondade que jamais eu tinha visto. Ele sorri e eu me flagro passando a mão no peito de novo. Ele pisca o olho. Muito perspicaz, Marina. Muito mesmo. Assim tu conquista o mundo. Tarado.

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