Capítulo 13
Maquiagem refeita, ou feita, afinal
eu tava um desastre que pior que Iraque depois da invasão com homens
bomba espalhados pelo meu corpo prestes a explodir e me detonar de
vez. Combino com Quico que, aconteça o que acontecer, os dois vão
se divertir, afinal, é sexta, dia mundial do fiasco, e pior do que
está não fica, não é? Fica. João ligou para avisar que não
tinha chegado chaveiro nenhum. Sua voz começa a passar um tom de
desespero. Sua mulher chegaria às três da tarde, a conexão atrasou
o voô que fazia escala em São Paulo e ela demoraria um pouco mais.
Desligo e tento encontrar o chaveiro. Não atende. Ligo de novo, uma
mulher atende. O que? Mulher dele? Tá no hospital e quebrou a perna?
Não pode! De todos os chaveiros de Porto Alegre tenho que chamar
logo um que bate num táxi e quebra a perna?
Paulo me espera na sacada de sua
sala. A sala originalmente não tinha sacada. Ele mandou fazer. Só
para fumar. Me chama. Peço um cigarro dele. Desses lights. Paulo
está na crise do cinqüentão. Fuma cigarro light. Caminha no fim da
tarde no parque sem camisa. Separado, vai em bares à procura de
idiotinhas incautas ou aproveitadoras cretinas. Ele não se importa.
Resume tudo com um "fazer o que?" Paulo é assim. Fazer o
que? Ele precisava de mim para fechar o negócio e aumentar
consideravelmente o faturamento da agência. Pagar mais para suas
duas ex e para suas três filhas. Sempre foi um cretino. Não seria
agora que deixaria de ser. Muitas pessoas nunca deixam de ser. Eu
jamais fui. Sou Marina e gosto de falar na cara.
Na cara eu falo logo que estou com
problemas, fui assaltada, quebrei o salto, não consigo pegar meu
carro e não falo que tenho um homem que não lembro quem é com quem
certamente trepei depois da festa de ontem trancado no meu
apartamento. Que o homem é casado e quer que eu vá buscar a mulher
dele no aeroporto. Enfim, uma história muito comprida e confusa. Só
a parte do assalto já o cansou. Ele acende o meu cigarro e pergunta
se eu voltei a fumar. Sim. Não. Sim e não. Só hoje, respondo. Ele
sorri. Se fecharmos este contrato tuas contas desse mês ficam por
minha conta, responde Cocó, num acesso de bondade que jamais eu
tinha visto. Ele sorri e eu me flagro passando a mão no peito de
novo. Ele pisca o olho. Muito perspicaz, Marina. Muito mesmo. Assim
tu conquista o mundo. Tarado.
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