Capítulo
12
Paulo
espera
Marina
em
sua
sala.
Ela
entra,
sandálias
da
faxineira
arrastando
no
chão.
Marina,
querida,
o
chefe
a
bajula
mais
que
o
normal.
Ela
sabe
que
ele
sempre
teve
uma
quedinha
por
ela,
ou
por
comer
ela,
coisa
que
ela
imagina,
mas
não
tem
certeza.
Ele
tem.
Marina,
recebi
agora
um
telefonema
de
nossos
clientes.
Eles
querem
almoçar
para
acertar
alguns
detalhes
mas
eu
acredito
que
querem
fechar
o
negócio.
Então,
a
tua
presença
é
muito
importante.
Pode
não
parecer
profissional,
mas
a
tua
apresentação
foi
tão
envolvente
que
até
eu
mesmo
me
convenci
que
eles
tem
que
ser
nossos
clientes.
Não
sei
daonde
tu
tirou
essa
força
de
convencimento,
nem
quero
saber,
Paulo
imagina,
como
todo
homem
sempre
pensa,
que
Marina
deve
é
estar
sendo
bem
comida,
afinal,
na
cabeça
dos
homens
se
passam
pensamentos
assim,
do
tipo,
fulana
está
de
mal
hoje
porque
não
trepou
ou
faz
tempo
que
não
trepa,
ou
seja,
é
mal
amada.
Marina
não
era
mal
amada.
Marina
não
era
nem
amada.
Só
tinha
casos
esporádicos.
Que
soubesse
ela
nunca
apareceu
com
um
mesmo
namorado
em
duas
festas
seguidas
da
agência.
Marina
é
fogo,
pensa
Paulo.
e
continua,
portanto,
quero
que
tu
saia
comigo
daqui
a
pouco
para
este
almoço
e
continue
no
mesmo
clima,
entendeu?
Respiro.
Caralho,
porra!
Calma.
Não
é
uma
boa
hora
pra
se
estressar.
Não
conta
nada
pra
ele
da
história
do
João,
do
assalto,
do
carro,
do
sapato,
do
gostosão.
O
gostosão!
Sim,
Cocó,
quer
dizer,
Paulo,
claro
que
eu
posso
almoçar
com
os
espanhóis.
Será
um
prazer
terminar
minha
explanação,
afinal,
se
pegarmos
essa
conta,
será
nossa
maior
conta
e
imagino,
não
falo,
só
imagino,
que
eu
também
vá
ganhar
um
aumento,
não
é?
Óbvio
que
ele
não
vai
responder,
só
me
embromar,
me
encher
de
presentes
e
regalias,
mas
aumento,
só
o
de
sempre.
Aumento
de
trabalho
que
publicitário
é
um
tipo
de
escravo
do
glamour,
entendem?
Não?
Olha
só,
não
tem
dia,
não
tem
noite,
não
tem
hora
extra.
Só
tem
a
loucura
do
chefe,
a
nóia
dos
clientes
e
o
saco
de
aturar
os
terceirizados.
Tudo
é
um
caos.
Como
eu
depois
de
uma
garrafa
de
champanha.
Talvez
por
isso
eu
beba.
Não
tenho
namorado.
Não
tenho
amor.
Não
tenho
vida.
Claro
que
sim,
Paulo,
só
vou
retocar
minha
maquiagem
e
já
volto.
Retocar
com
o
que,
cretina?
Não
tem
como
retocar.
Não
tem
pra
quem
pedir.
Não
tenho
bolsa,
não
tenho
nada.
A
bicha!
A
bicha
do
cafezinho.
Quer
dizer,
eu
sempre
encontro
no
cafezinho.
Ele
nem
trabalha
aqui
comigo,
trabalha
em
outra
sala.
Mas
é
uma
bicha
amiga
do
atendimento.
Amo
ele.
Todas
mulheres
amam
bichas
amigas.
Amar
mulher
amiga
é
outra
coisa.
Mulher
é
mulher
mas
sempre
pode
te
trair.
Bicha
também
pode.
Mas
não
é
mulher.
Pode
tentar
pensar
como
uma.
Uma
mulher
pode
pensar
como
bicha.
Mas
pensar
como
mulher?
Nem
o
narrador
quando
tenta
se
passar
por
mim,
esse
machista
de
merda.
E
nem
tenta
interferir
agora,
babaca.
Sou
eu
e
o
Quico,
minha
bicha.
Sim,
todas
nós
temos
uma
vez
na
vida
uma
bicha.
Hoje
o
Quico
é
a
minha.
Quico
não
está
no
café.
O
procuro
na
sala.
Está
saindo
do
banheiro,
os
olhos
fundos,
como
se
tivessem
sido
enxugados
depois
de
uma
choradeira
de
súbito.
Que
foi
Quico?
Não
foi
nada,
não.
Eu
ainda
tô
meio
nervoso,
o
Lucas,
o
namorado
do
Quico,
agora
ex,
como
ele
já
vai
me
explicar,
me
largou.
Assim,
sem
mais.
Nem
menos.
E
eu
fico
parado
pensando
e
não
lembro
o
que
posso
ter
feito
para
que
ele
terminasse
comigo.
Terminou
porque
homens
idiotas
terminam
por
nada,
Quico.
E
falava
assim,
como
se
Quico
fosse
a
mulher
e
Lucas,
o
homem.
Talvez
fossem.
Como
ela
já
disse,
eu
não
entendo
nada.
Marina
pega
em
suas
mãos
e
pede
que
ele
leve
sua
bolsa
junto.
Quico
não
tem
problemas
em
carregar
uma
enorme
bolsa.
Não
é
uma
bicha-mulher,
quer
dizer,
se
veste
de
mulher.
É
apenas
um
pouco
mais
espalhafatoso
que
o
normal
e
adora
uma
maquiagem.
Aquela
coisa
Boy
George,
menina-homem,
sabem?
Pois
levei
a
bolsa
e
disse.
Quico,
eu
tô
horrível
e
tenho
uma
reunião
mega-super-importantíssima,
então,
olha
aqui,
tu
me
ajeita
a
cara
agora
e
me
deixa
"a"
mulher
que
eu
tenho
que
destruir
corações
e
arrebanhar
bolas
sob
meu
domínio.
Ele
entendeu
o
recado.
Quico
sabe
tudo,
ele
até
ajuda
na
maquiagem
quando
pinta
uma
sessão
de
fotos.
E,
além
do
mais,
é
minha
única,
único,
amiga
que
carrega
junto
o
estojo
de
maquiagens.
Com
demaquilante,
claro.
Imperdoável
não
ter
um
demaquilante.
Fico
o
óbvio
maquiada
sem
parecer.
Alguém
para
o
gostosão
chamar
de
seu.
Esquece.
Capaz
dele
gostar
do
Quico.
É
tão
bom
que
deve
ser
gay.
Os
melhores
homens
são
todos
gays.
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