segunda-feira, 21 de setembro de 2020

Sempre Tem 

Sempre tem aquele dia
Que nada dá certo 
Sempre tem aquela fila 
Que leva a lugar algum 
Sempre tem aquele momento 
Que passa em um segundo 
Sempre tem aquele minuto 
Que dura uma eternidade 
Sempre tem aquele desejo 
Que nunca vamos matar 
Sempre tem uma prima 
Que se mudou pra China 
Sempre tem aquele tio 
Que ganhou na loteria 
Sempre tem alguém morrendo 
De câncer ou leucemia 
Sempre tem o automóvel 
Que não pega na subida 
Sempre tem aquela comida 
Que nunca vamos comer 
Sempre tem uma viagem 
Que adiamos na última hora 
Sempre tem alguém chutando 
Um penalti roubado pra fora 
Sempre tem uma nota perdida 
Num casaco mofado no armário 
Sempre tem um malandro 
Em cada esquina, um otário 
Sempre tem sabonete velho 
Na gaveta do banheiro 
Sempre tem uma faca sem fio 
Que só usamos na manteiga 
Sempre tem um ônibus adiantado 
Um marido que vira ex-namorado 
Sempre tem um guarda-chuva 
Que não abre nem com reza 
Sempre tem aquele velho 
Parado na fila da lotérica 
Sempre tem um homem parado 
Fumando escondido do filho 
Sempre tem uma ponta de cigarro 
No fundo de um cinzeiro perdido 
Sempre tem aquela cerveja 
Misturada com as cebolas 
Sempre tem um sorriso guardado 
Que aparece quando queremos 
Sempre tem um beijo perdido 
Em meio ao sereno 
Sempre tem um assessor 
Que não faz porra nenhuma 
Sempre tem o puxa-saco 
Que morre de ataque cardíaco 
Sempre tem aquele maníaco 
Que vira empresário 
Sempre tem um deputado 
Que rouba o teu salário 
Sempre tem um pensamento 
Que pensamos sozinhos 
Sempre tem aquele sonho 
Que não nos lembramos 
Sempre tem alguém pra amar 
Mesmo que seja por engano 
Sempre tem
 

 

VIDA LONGA AO CAOS

Isso aqui é internet pura, a origem de tudo. Os blogs, os mailzines, livres, mesmo que dentro de uma plataforma do Google. Meu primeiro zine internético vem lá de 1996, já são 25 anos nisso, o saudoso A Folha Mutante, que era um zine literário anarquista distribuído em papel na faculdade do comunicação da PUCRS (Famecos) e pelas ruas de Porto Alegre, assim como muitos outros zines eram distribuídos na época. e antes desse foram muitos e depois outros tantos, incluindo o KZine, que gerou uma editora independente e muito agito cultural pelo país. Foi das ruas que vim para a internet e não o contrário. As ruas são meu pátio, isso daqui é só um veículo e, mesmo que impedido pela pandemia, é para as ruas que pretendo voltar. Para o papel, para cola, a fotocópia, para o Faça Você Mesmo, um revival do PUNK contra esse sistema consumidor de almas que se transformou a velha e boa anárquica internet. 

Facebook, Twitter, Instagram, YouTube, Spotify e tantos outros, são veículos e não A internet. A internet é e deveria ser LIVRE. Internet é prerrogativa de distribuição de informação livre das amarras dos grandes veículos de imprensa e das grandes corporações bilionárias. O que eu proponho aqui, já que Facebook, Google e Amazon praticamente ENGOLIRAM a internet,  é o CAOS. Usem tudo isso que eles proporcionam de forma rasteira e crua. Sejam punks, um rastilho de pólvora e um pavio longo para que eles nunca saibam onde pode estar armada a próxima mina de informação livre.

Não pretendo eu ser O fulano dessa panaceia, mas me ofereço para abrir caminho para que muitos outros venham juntos, livres da monetização e da imposição de pautas pequenos burguesas e moralistas. Literatura, artes visuais, música, teatro, cinema, que tudo isso vire uma grande balbúrdia e que crie muito RUÍDO. Ruído é o que eles não gostam, pois o ruído reverbera como naquela velha analogia da pedra em um lago, em círculos cada vez maiores. Seja você uma pedra rolante. Uma pedra sozinha já provoca movimento em águas paradas. Milhares de pedras provocam um TSUNAMI. Que venha o tsunami da década que se avizinha. Década de 2020, a década da virada. A década dos loucos! Que seja dada a largada ao CAOS.