Capítulo 11
Não que eu me importe de andar
descalça. Muitas vezes deixo uma rasteirinha pra usar aqui na
agência, mas hoje nem isso. Olhei para as outras e ninguém parecia
ter uma sandalinha. Saí da sala e fui para o corredor. Pensei em
fumar, mas não tinha cigarro. Desci o elevador, os dedos estranhando
estarem tão soltinhos no chão frio do corredor em comparação ao
carpete quentinho, apesar de sujo, da minha sala. No elevador um
homem que descia olhou para meus pés descalços e sorriu. Notei, sem
que ele notasse, acho, que deveria ser um desses tarados por pés.
Tem homem que não pode ver um pé. Já ouvi de homens que se
masturbam só de pensar em determinados pés. Eu não tive a
oportunidade, ou azar, de ver algo assim. Uma vez teve um, acho que
era Tiago o nome dele, ou Rafael? Não sei. Sei que pegou nos meus
pés, depois de um tempo que tínhamos trepado, e os levou até o
saco e ficou ali, brincando com a sola dos meus pés e se
masturbando. Foi muito estranho, admito, depois de um tempo parecia
que eu esfregava numa banana mole, pois ele estava ali, meia-bomba,
todo excitado. O desgraçado gozou no meus dedos e não queria que eu
lavasse. Foi a única vez. O cara do elevador parecia ser um desses.
Ele enfiou uma das mãos no bolso das calças e mexia a boca com a
pontinha da língua pra fora. Antes que ele gozasse na minha bunda e
sujasse minha roupa, o elevador chegou no térreo.
Lá fora um sol rachava ao meio-dia e
o porteiro observava a tudo calmo, de trás de seu balcão. Olhei pra
ele e perguntei se tinha um cigarro. Ele tinha um bigode grisalho
amarelado pela nicotina e não negou que tivesse uma carteira. Me
disse que costumava não fumar em serviço, ainda mais ao meio-dia,
hora de entra e sai no prédio, mas que quando diminuía o movimento,
levantava da cadeira e fumava um cigarrinho na frente, perto das
folhagens que enfeitam a frente do edifício. Coloquei os pés na
grama, o lugar mais fresquinho e com sombra e enquanto fumava pensava
como explicar a situação ao chefe. Será que Paulo me liberaria pra
que eu pudesse acabar com essa situação constrangedora. Estava em
meio a uma negociação para conseguirmos novos clientes,
importantes, sem bolsa, sem documentos, sem carro, descalça e agora,
pensando bem, com uma puta dor de cabeça que não sei se é uma
mistura de ressaca e fome mesmo.
Quando terminei de fumar, dei de
cara, quase com os pés mesmo, no carrinho da faxineira que vinha
saindo do elevador. Ela pediu desculpas, sem nem ter culpa, e eu, me
aproveitando, expliquei que tinha sido assaltada e se ela não tinha
uma sandália para me emprestar. Ela sorriu, depois parou, entre
desconfiada e surpresa, e me respondeu. Tenho sim. Tenho umas que a
última faxineira que trabalha aqui esqueceu. Ou foi a empresa, a
empresa terceirizada que faz o serviço de vigilância e limpeza do
prédio, que deu pra ela e ela nem se tocou de pegar. Acompanhei ela
por um corredor lateral e ela me levou até um tipo de depósito onde
tinha de tudo, desde lâmpadas velhas, vassouras até montanhas de
livros e revistas. Tão aqui, ó, ela me mostrou. Dei graças a deus,
primeiro, porque eram do mesmo número que o meu, número não tão
comum assim de achar, 35, e porque não eram aquelas sandálias de
pedreiro, azul e cinza. Eram branquinhas e disfarçam bem no meu
conjuntinho de falsa executiva responsável. Sim, eu sou responsável.
Agora mesmo sou responsável pelos meus hormônios. Talvez não. Não
sei. Tenho que subir antes que o Cocó, quer dizer o Paulo, o chefe,
vocês sabem, saia para o almoço. Ele costuma demorar. Não duvido
que tenha umazinha confirmada. Canalha. Todos são canalhas.
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