quinta-feira, 22 de março de 2012

MALDITA CHAMPANHA - Capítulo 7

Capítulo 7

Os sites de busca são péssimos quando se procura um chaveiro. Um ímã de geladeira muitas vezes é dez vezes mais eficiente que um Google da vida. Tivesse uma pá de ímãs em uma geladeira e tudo estaria resolvido. Não que eu não pudesse pedir ajuda pra alguém, mas é que não quero escancarar minha mendicância emocional admitindo que tenho um homem que nem sei quem é trancado dentro do meu apartamento. Quando consigo enfim encontrar um site que me indique chaveiros das redondezas, o celular toca. Love, love me do. You know i love you ... Juro que troco a bosta deste toque quando tiver tempo.

Que é? Não vi que eu liguei? O que? Tua o que? Ele é casado. Casado e tava aproveitando uma viagem da mulher pra dar uma escapadinha. A escapadinha sou eu. Não precisava saber disso, não é? Precisava? Pronto, agora que a autoestima foi pra banha. Uns três quilos nas próximas semanas, no mínimo. E o canalha ainda admite. O que? Ela deve tá chegando daqui a pouco no aeroporto? E eu com isso, idiota? Mas tu é animal, João não sei de que? Perdeu uma reunião e daí? Eu tô perdendo minha vida, seu cachorro. Como se eu já não me tivesse me metido com um tipinho desses. Casado. Safado.

Era o Cirne, olha os tipinhos com quem eu me meto. Cirne! Isso lá é homem de se arranjar. Mas quer saber, ele me tratava bem, não incomodava e não ligava o tempo todo. Era quase perfeito. Um pau. Noitadas a dois. Sem me encher. Até dava minhas voltas quando ele esquecia de mim. Era um caso quase namoro. Quando estávamos juntos, não existiam outros. Pelo menos pra mim. Eu não tinha. Tinha o que toda mulher tem. Casos esporádicos que aparecem e temos que aproveitar, não é? Não pensem que eu sou uma promíscua. Não. Só que trepar é bom, porra. Eu ainda prefiro pau. Tudo bem que dizem que toda mulher é uma lésbica em potencial. Já dei minhas bitocas por aí. Bêbada. Boa desculpa. Mas não é a mesma coisa. Quero homem. Com cheiro de homem. Limpo, claro. De preferência que seja machista na carteira e feminista no resto. O Cirne era assim. Tinha sua careca, mas quem disse que não é bom uma carequinha pra passar a mão. Bagaceira!

Só que o Cirne tinha mulher. E dois filhos, o cachorro. Até mesmo um cachorro tinha o cachorro. O nome dele era Sasha. E eu dando prum animal destes. Um dia ela, a mulher, a tal corna, descobriu. Eu era o casinho dele. Eu não era casinho de ninguém. Nem queria ser. Mas só que ela descobriu e veio tirar satisfação comigo. Na frente do meu prédio. Fui fazer uma caminhada no Parcão e a potranca apareceu. Não me assusta ele cornear aquela égua prenha. Não que eu seja uma beleza universal, mas eu tenho tudo no lugar. Agora aquela infeliz? Já veio pra cima cheia de dedos na cara e querendo partir pra bofetada. Mas antes que ela chegasse às vias de fato, tasquei-lhe um tapa com as costas na mão. Isso eu sabia desde o colégio. Aprendizado de irmã mais nova. Meu irmão brigava e eu assistia, tinha que voltar junto com ele pra casa. E desde aquela época guardei que um tapa com as costas da mão praticamente encerra o assunto. Quando ela sentiu o golpe, xingou, colocou a mão no rosto e voltou pro Classe A de mulher mal casada dela. Ainda me ameaçou um tempo de processo, mas o Cirne, se desculpando muito, disse que não ia ter nenhum processo. Ele ainda tentou trepar comigo mais uma vez, o panaca. Me deu brincos e tudo. Aceitei. Mas não dei. Devolver, jamais.

João estava realmente preocupado do outro lado. Eu era o que tinha que se livrar, era óbvio. Mas tinha que me tratar bem para resolver seu problema. Queria que eu desse um jeito de receber ela no aeroporto, parece que o voo chegava às duas da tarde, e já estava mais que na cara que não teríamos tempo de achar um chaveiro que abrisse a porta pra ele. Ainda mais agora que ele me liga na hora que consigo achar um número disponível. João desliga. Prometo pensar no caso dele. O chaveiro atende.


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