quinta-feira, 1 de março de 2012

MALDITA CHAMPANHA - Capítulo 1

MALDITA CHAMPANHA

Capítulo 1

Marina voltou correndo do café quase tropeçando na dobra do carpete da sala. Porcaria de carpete, pensou. Tem é que tirar o carpete daqui. Coisa mais velha, carpete. Mas um dia eu pego o Cocó, Cocó era o dono da empresa, ninguém sabia de onde tinha vindo aquele apelido, o nome dele era Paulo, bem comum, mas vai saber, esses publicitários, cheios de piadas engraçadinhas, vai saber? Cocó? Cocó? Cocoricó? Vai ver é porque ele é um galinha. E é mesmo. Deu em cima de mim. Com o uísque na mão. Fim de ano. Mas deu. Eu é que não dei mole. Não gosto de homem careca. Parece um pau ambulante. Lustroso. pensou? Eu, ein?

Marina chega no telefone. Ele ainda toca. Love Me Do. Bem que ela queria algo
do
tipo Sargent Pepper's, mas foi o que conseguiu copiar, na corrida, voltando do shopping, depois de perder o chip do celular e o encontrar dentro do aparelho, na frente da atendente da companhia telefônica, e rindo abobadamente admitir que não sabia que ele se escondia ali, aquele chip desgraçado. A agenda toda perdida. Alguns números anotados na Internet e aquele ali que piscava na sua frente e ela não conseguia descobrir de onde era.

Maria? Ãhn? Quem? É Marina. O que? Que chave? Aaaaah! A chave! Puta que pariu! Esqueceu um homem trancado dentro de casa. Quem era ele mesmo? João? Não. João, não. Ela nunca levaria um João pra casa. Não seria nenhum fim de mundo, mas nunca um João. Um João qualquer. Apesar que tinha saído com um Álvaro. E isso é nome de gente? Álvaro? Bom, o Álvaro. Era bom. Mas me traiu com a minha prima. Era meu par nas bodas dos pais dela. Meus tios. E come a prima na festa. No carro. No estacionamento. Foda-se o Álvaro. Fodam-se todos os Álvaros. Mas e esse João? Quem diabos era esse alguém que se chama João?

Oi? Sim, te ouvindo ... Como é que eu vou saber como que tu vai sair daí? Sai pela janela. Ah, terceiro andar? Não pra pular. Não. Não pra pular, Marina. Óbvio que não dá. O coitado dentro, preso pelo lado de fora e não pode pular pela janela. E tu nem lembra o nome, sua puta! Quem manda pegar homem em festa de lançamento de revista. Quem era? A revista, não o homem. Tu não tem celular? Chama um chaveiro. Agora ela tinha se dado conta que o número era da casa dela. Ninguém anota o próprio número fixo no celular. Marina não anota. Quase sempre esquece o próprio número. E saber pra que? telemarketing liga pra número fixo. Desgraça. Como tu conseguiu meu celular? Eu te dei? Com um batom num guardanapo? Que nojo! Que vergonha! Quem inventou a champanha? Quem foi o maldito que inventou a champanha?

A champanha é produzida originalmente na região de Champagne-Ardenne e basicamente deriva da segunda fermentação forçada dos vinhos da região. Antigamente se utilizavam garrafas de vidros menos espessos e pauzinhos de cânhamo embebidos em azeite no lugar das rolhas de cortiça. Foi o monge beneditino Don Pérignon que estabeleceu as regras da champanha moderna e pode ser o culpado, Marina, pela existência do espumante de origem duvidosa da festa da revista ou da pia da tua cozinha, virado de cabeça pra baixo, fora da lixeira de plástico, do lado da caixa de remédios e do anticoncepcional que tu esqueceu de engolir, sua doida.

Teu celular sem bateria? Mas então chama um chaveiro pelo meu telefone mesmo. Não tem ... na geladeira, porra! Não tem ... Seu sei quem é tu, pensou. Não tinha. Nenhum chaveiro. Peraí. Deixa que eu cato um chaveiro aqui na Internet. te ligo. Desligou. Quem era o João? Bom, não posso deixar o homem trancado dentro de casa. Não sei nem quem ele é. sei que dei pra ele? Dei? Trepamos? Não lembro, champanha. Tu lembra? Não, eu sou uma garrafa de champanha e estou na tua geladeira, quer dizer, no lixo da tua cozinha, ou na pia, virada pra baixo.

O Paulo, quer dizer o Cocó, apareceu na frente da mesa de Marina. Esqueceu da reunião? Que reunião? Que reunião, caralho? A reunião com o pessoal do banco espanhol, Marina. Grande verba. Muita grana. Eles tão pesquisando o mercado. Como que reunião, sua estúpida! vou, Paulo. Cocó vira as costas e Marina faz uma careta infantil. Ele se vira de volta. Ela sorri. Anota o número de um chaveiro da Auxiliadora. Não é o mesmo bairro, mas serve. Mal tempo de anotar no celular e Paulo abre a porta da sala de reuniões com uma xícara de café na mão e o pessoal do banco vai chegando. Marina pensa em como ligar logo para o chaveiro. Maldita hora pra não ter internet em casa. Mas era a internet ou o pilates. Internet ou pilates? Ela odiava o nerdismo. Preferia coxas definidas. E agora de que servia bunda firme com um peludo trancado dentro de casa?

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