quinta-feira, 8 de março de 2012

MALDITA CHAMPANHA - Capítulo 3

Capítulo 3

Marina desce os quatro andares pela escada. O elevador também tinha caído com a rede toda. O prédio todo. A rua toda. O bairro. A cidade. O Império Romano. Porto Alegre ventava de um lado para o outro em uma penumbra de nuvem e pingos grossos sem nenhuma noção de direção. Marina segurava o celular em uma das mãos enquanto levava a bolsa na outra pendurada no ombro. O carro estava ali perto em um estacionamento fechado. Duas quadras só. Pessoas correndo apressadas pelo Moinhos de Vento, nome apropriado para um bairro nesse dia. Quem sabe se não eram o ventos que sobravam dos tais moinhos a derrubar galhos, luzes e reputações pela cidade? Moinhos do passado assombrando o dia de uma louca publicitária com amnésia alcoólica. Acelerou o passo e entrou na rua onde ficava o estacionamento. Detrás de uma árvore saltou não um galho, mas um guri de uns dezesseis anos. Sacou de uma faca e encostou nas costelas de Marina. Fica quieta e deixa a bolsa, madame. Fica quieta. quero tua bolsa, safada. Marina não teve nem tempo de reagir. Quando tentou segurar a bolsa, levou uma botinada na canela e caiu no chão, o celular na mão. O guri deu uma última olhada na cara dela e ainda teve tempo de dizer. E tu nem viu nada, madame. Se falar da minha cara eu te cato, viu? Eu te cato, sua safada!

Marina pensou no que tinha na bolsa, sem nem se dar conta do perigo que tinha passado. Um segurança de um café ali por perto se aproximou e perguntou se estava tudo bem. Tudo bem? Onde que tu tava enfiado quando o guri me roubou, porra? Marina não falou. Ele a ajudou a se levantar. Perguntou se ela queria se sentar e tomar uma água. Ela aceitou a ajuda, mesmo puta da cara por ter sido assaltada em plena luz, quer dizer, escuridão do dia em Porto Alegre, e foi cambaleando de braços dados com o segurança. Ele a colocou em uma cadeira do café e lhe trouxe um copo de água. Estava suando, as mãos tremiam e pensou que fosse desmaiar ali mesmo. A dona do café que a conhecia de vista foi conversar com ela.

Tu como anda nossa cidade? Aqui na nossa rua, falava a dona do café que se chamava Amália. Amália? Marina pensava mais no nome da dona do café que no que ela estava falando. Essa cidade muito insegura. Outro dia foi uma senhora de idade, me chamando de velha, cachorra? Foi uma senhora de idade que assaltaram por aqui e levaram toda a aposentadoria da coitada. Sim, a aposentadoria. De mim não tem mais nada pra levar. A dignidade, o dinheiro, a virgindade foi um namorado que tive aos 14 anos e me comeu na casa dele enquanto os pais assistiam novela na televisão. Foi rápido, sem graça e hoje em dia ele é um gordo horroroso de tetas caídas. Que nojo, cuspo a água. Tem uma abelha no fundo do copo. Ainda sai zunindo a infeliz. Amália me traz outro copo, mas recuso. Tenho pressa. Mas tu não quer ir na polícia? Como era a cara dele? Vai saber como era? Não lembra. Usava cabelo repartido ao meio como se fosse um moicano sujo. Como daquele jogador argentino. Não. Não sei o nome. Odeio futebol. Quer saber? Vou embora. Depois eu descubro como me defender. Marina se levanta e vai tentando caminhar, a perna ainda bamba e dobrando pra direita. Coloca o no paralelepípedo da rua e quebra o salto. Puta merda! Caralhooooô!

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