terça-feira, 22 de maio de 2012

MALDITA CHAMPANHA - Capítulo 22


Capítulo 22

Quico vem e me abraça. Quico é verdadeiro. E é homem. Muito mais que muitos dos que conheço por aí. Convido ele pra ir junto comigo para casa. Ele concorda. Antes passamos na casa dele e ele pega uma muda de roupas. Chiquerésimas, me diz. Depois vamos para a minha casa. Enquanto Quico beberica o champanha que ainda restava na geladeira, caralho, quanto bebi ontem? Eu tomo banho. Depois ele toma um banho enquanto eu coloco minha roupa. Coloco um Bowie para dançar. Modern Love. Bowie é bom até quando é pop e brega. Quico sai do banheiro já vestido e com uma toalha enrolada na cabeça. I catch a paper boy / But things don't really change / I'm standing in the wind / But i never wave bye-bye. Nos juntamos, secador na mão, cena mais clichê do mundo. But I try. I tryyyyeeeee! E nos atiramos no sofá rindo sem parar. Bebemos a garrafa de champanha no bico e Quico me dá um selo na boca. Sinto o quentume subindo pela garganta e monto nele. O agarro com força e meto a língua dentro de sua boca. No começo ele responde, mas depois pára e eu me levanto puta. Porra, Marina! Tu é demais, amiga! Demais! Eu começo a rir de mim mesma e voltamos a dançar. Quero dançar. Quico não se importa. Ele também quer. Mas não comigo. Ele gosta de meninos. Eu não o condeno. Adoro homens. Já tentei não gostar. Juro que eu tentei. Mas não nasci para ser lésbica. Uma ou outra vez, mas mulher, não sei, os homens têm razão, mulher só incomoda.

Eu era bem mais nova, não que eu não seja nova hoje. Era mais nova. Andava com uns roqueiros, coisa de guria, eles tinham uma banda porto-alegrense. Dessas que nem vale a pena mencionar. Faziam sucesso nos anos 90. Eram os queridinhos do underground. E eu andava com eles. Cheguei a morar na pocilga onde eles moravam. Durou pouco tempo. E tinha uma guria que era louca por mim. Tássia era o nome da doida. Pintava os cabelos de preto e rosa e me seguia insana. Stalker mesmo. Até que uma noite depois de uma garrafa de vodca, na época eu era uma dessazinhas que me deixava levar pelo glamour da vodca pura, coisa de estudante de faculdade metida a artista que eu era, ela veio com uma conversa de que eu precisava dar um beijo nela, nem que fosse só por dar mesmo, as lésbicas são viris, mais viris que os homens, quando querem uma mulher. A tal Tássia me agarrou mesmo. Quase à força. Depois me acamei. Continuei um pouco, mas quando peguei no queria realmente encontrar me senti castrada. Eu precisava de um pau. Ela queria outra coisa. Não era justo. Ela insistiu. Eu não sou viril mas sou da pá, entendem? Da pá virada. Dei-lhe um tapa com as costas da mão daqueles que homem mau dá em mulher em filme antigo, sabem? Aqueles que aprendi com meu mano mais velho. Ela deu um rodopio pra trás e começou a chorar de raiva. Não revidou. Não falou nada. Nunca mais me olhou nos olhos. Quando eu a encontrava em festas ela dava um jeito de agarrar a primeira que aparecia e fazia questão de ficar se esfregando perto de onde eu tava. Fiquei com medo. Mulheres me dão mais medo. Prefiro os homens. São safados, mas, na maioria das vezes, burros. Os coitados.

Queéisso, Marina? Pra cima! Quico começou a dançar um Blur como, agora, uma bicha louca mesmo, enquanto procurava outra champanha na geladeira e fazendo sinal de negativo com a mão, cantava: Girls who are boys who like boys to be girls ...


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