quinta-feira, 10 de maio de 2012

MALDITA CHAMPANHA - Capítulo 19


Capítulo 19

Caminhar já não é um bom exercício pra quem só faz pilates quando se lembra, então imagina para alguém de ressaca que resolve voltar a fumar depois de um tempo sem fumar e ainda tem que encarar uma lomba debaixo de uma chuvarada. Léo começou a rir da situação e eu comecei a lhe contar do que tinha acontecido desde a manhã, ele só sabia da parte do homem trancado na minha casa. Ele ria cada vez mais alto e isso serviu muito para diminuir o impacto da subida no meu corpitcho combalido pela batalha.

No prédio o porteiro me olhou curioso, mas abriu a porta sem perguntar nada. Os porteiros sempre sabem mais da minha vida que eu mesma aposto. Eu quase não sei que horas saio ou volto pra casa. Os porteiros sabem. Eles sabem quando mudei de namorado, de caso, ou se chego bêbada e solteira ou se saí de táxi ou de carro. Eles sabem tudo. Poderiam escrever um livro se soubessem escrever. Ou quem disse que um deles não é por acaso um desses escritores nerds reclusos que aceitou o cargo de porteiro só para fofoquear a vida alheia e ter idéias para suas histórias? Vai saber. Eu prefiro nem imaginar. Nem quero imaginar o encontro com o tal João do outro lado da porta do meu apartamento. Batemos na campainha só para avisarmos que já chegamos. O porteiro foi avisado que chegaria um chaveiro dali a pouco. E o chaveiro realmente não demorou muito a chegar. Disse que como o caso era de chave perdida nada mais normal que ele abrisse com uma chave micha mesmo. Fico imaginando se esse também não se aproveita e daqui a pouco sai por aí assaltando casas de incautos, mas, imagino, ele não faria na minha. Não tem nada para roubar. Só algumas roupas e bolsas de grife que ele não saberia onde vender e daria pra qualquer putinha em troca de um boquete.

João me olha assustado. Ele me parece menos bonito, bem menos, que ontem. ainda mais perto do Léo. Procuro rapidamente minha chave reserva. Agradeço por encontrá-la logo. Abro o armário do quarto e salta uma caixa de sapato onde guardo essas coisas e a chave cai direto no meu colo. Pego a chave reserva do apartamento dentro da mesma caixa e troco de roupa. Coloco um calçadinho baixo para não correr o risco de andar por aí de salto quebrado de novo e Léo conversa com João na sala. Eles riem alto. Quando volto pergunto o porquê de tantas risadas. João ri e me explica que agora, mais calmo, não pode parar de rir só imaginando a cara da mulher. Ele tem que buscar o carro no estacionamento onde deixou ontem de noite quando veio comigo pra casa. O que? Tu me deixou dirigir naquele estado? Que estado? Pergunta ele. Doida de champanha. Ele ri alto. Não sei como dei pra um idiota desses; Nós dois estávamos muito bêbados. Mal nos beijamos e tiramos as roupas, ou tentamos tirar, e quando me dei conta estava aqui, num quarto que não conhecia, no escuro e atrasado para o meu trabalho. Nós não fizemos nada? Pergunto. Não. Ele responde. Até onde eu lembro, só uns beijos. Mais nada. Léo ri mais que ele. Eu me viro com raiva e volto para o quarto. Me olho no espelho antes de ajeitar o cabelos, prendendo, claro, porque depois de tanto desastre meteorológico, só prendendo, e começo a rir. Mais alto que ele. Eu não dei. Nem bêbada alguém me come. Eu sou uma desgraça. E voltei para a sala.


Nenhum comentário:

Postar um comentário