Capítulo 18
Um taxista no passado, ou no
presente, não se sabe ao certo, aparecia nos momentos mais
inesperados, tal como o chaveiro que lhes contei a história antes, e
levava as pessoas para onde realmente elas queriam ir e não aonde
elas pediam para que ele as levasse.
Uma guria de uns vinte e poucos anos
pediu para que ele a levasse ao hospital, quer dizer, ela não disse,
mas levava a mão na barriga e pediu pra deixá-la na Doutor Flores
no Centro, perto de uma clínica clandestina de aborto. O taxista,
que sabia o porquê dela pedir tal destino e passara por ali
justamente por isso, a levou para a casa do pai da criança. Ela
olhou para o taxista, chorou e pediu para que ela o levasse para
outro lugar. Ele deu de ombros. O pai da criança estava chegando em
casa. Tinha sido despedido e sua mãe abria a porta da casa quando
viu o táxi e a menina dentro dele e compreendeu tudo. Eles
conversaram e hoje em dia um padeiro de nome Sérgio tem um ajudante
que é um belo dum rapaz, a cara da menina.
Outra vez um velho pediu para ir para
casa, mas o taxista, que já sabia de suas intenções, o levou para
um bar da Cidade Baixa. Lá, em uma mesa repleta de velhos amigos, se
comemorava o aniversário de uma senhora dos seus sessenta anos.
Todos estavam sorrindo e bebericando vinho ou cerveja, quando o táxi
aportou, as cadeiras perto da rua, e todos olharam o velho e se
levantaram. Fazia vinte anos que ele não se encontrava com eles.
Tinha brigado com um deles por causa de uma mulher. A mulher,
inclusive, era a senhora de aniversário, tinha se casado com o amigo
e depois se separado. E todos sabiam da história muitas vezes
contadas e já por muitos esquecida. Menos pelo passageiro. Ele
começou a chorar no banco de trás e não quis sair do táxi. Foi a
aniversariante que se levantou da mesa, abriu a porta e o convidou
para sentar-se junto a eles. Ele a abraçou e todos se levantaram
para abraçá-lo. No outro dia o velho voltou para a casa, de
ressaca, e jogou na lata de lixo o revólver carregado que guardava
na gaveta da cabeceira da cama.
As histórias do lendário taxista
caberiam em outro livro de tantas que foram, mas aqui não é o caso,
portanto passo logo para o epílogo de suas aparições, dizem, que
aconteceu pouco tempo atrás, quando ele pegou uma certa mulher que
caminhava pelas ruas do Centro. Era tarde da noite e ela perambulava
solitária pela Borges de Medeiros. Poderia ser uma prostituta. Uma
isca de assaltante de taxistas, mas não. Ela entrou no táxi no
momento que este parou ao seu lado e nem perguntou porque ele parou e
nem disse para onde queria ir. Simplesmente o taxista acelerou Borges
abaixo, fez a curva no Mercado e se dirigiu a toda velocidade pela
Castelo Branco. A caminhante acendeu um cigarro fino e fedorento e
abriu a boca falando palavras indizíveis que só o taxista entendia.
Ele só respondeu que o mar era um lindo túmulo e nunca mais se
ouvir falar de suas corridas, muito menos da mulher solitária e
muito menos ainda de mares perdidos em fins de estrada.
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