segunda-feira, 7 de maio de 2012

MALDITA CHAMPANHA - Capítulo18


Capítulo 18

Um taxista no passado, ou no presente, não se sabe ao certo, aparecia nos momentos mais inesperados, tal como o chaveiro que lhes contei a história antes, e levava as pessoas para onde realmente elas queriam ir e não aonde elas pediam para que ele as levasse.

Uma guria de uns vinte e poucos anos pediu para que ele a levasse ao hospital, quer dizer, ela não disse, mas levava a mão na barriga e pediu pra deixá-la na Doutor Flores no Centro, perto de uma clínica clandestina de aborto. O taxista, que sabia o porquê dela pedir tal destino e passara por ali justamente por isso, a levou para a casa do pai da criança. Ela olhou para o taxista, chorou e pediu para que ela o levasse para outro lugar. Ele deu de ombros. O pai da criança estava chegando em casa. Tinha sido despedido e sua mãe abria a porta da casa quando viu o táxi e a menina dentro dele e compreendeu tudo. Eles conversaram e hoje em dia um padeiro de nome Sérgio tem um ajudante que é um belo dum rapaz, a cara da menina.

Outra vez um velho pediu para ir para casa, mas o taxista, que já sabia de suas intenções, o levou para um bar da Cidade Baixa. Lá, em uma mesa repleta de velhos amigos, se comemorava o aniversário de uma senhora dos seus sessenta anos. Todos estavam sorrindo e bebericando vinho ou cerveja, quando o táxi aportou, as cadeiras perto da rua, e todos olharam o velho e se levantaram. Fazia vinte anos que ele não se encontrava com eles. Tinha brigado com um deles por causa de uma mulher. A mulher, inclusive, era a senhora de aniversário, tinha se casado com o amigo e depois se separado. E todos sabiam da história muitas vezes contadas e já por muitos esquecida. Menos pelo passageiro. Ele começou a chorar no banco de trás e não quis sair do táxi. Foi a aniversariante que se levantou da mesa, abriu a porta e o convidou para sentar-se junto a eles. Ele a abraçou e todos se levantaram para abraçá-lo. No outro dia o velho voltou para a casa, de ressaca, e jogou na lata de lixo o revólver carregado que guardava na gaveta da cabeceira da cama.

As histórias do lendário taxista caberiam em outro livro de tantas que foram, mas aqui não é o caso, portanto passo logo para o epílogo de suas aparições, dizem, que aconteceu pouco tempo atrás, quando ele pegou uma certa mulher que caminhava pelas ruas do Centro. Era tarde da noite e ela perambulava solitária pela Borges de Medeiros. Poderia ser uma prostituta. Uma isca de assaltante de taxistas, mas não. Ela entrou no táxi no momento que este parou ao seu lado e nem perguntou porque ele parou e nem disse para onde queria ir. Simplesmente o taxista acelerou Borges abaixo, fez a curva no Mercado e se dirigiu a toda velocidade pela Castelo Branco. A caminhante acendeu um cigarro fino e fedorento e abriu a boca falando palavras indizíveis que só o taxista entendia. Ele só respondeu que o mar era um lindo túmulo e nunca mais se ouvir falar de suas corridas, muito menos da mulher solitária e muito menos ainda de mares perdidos em fins de estrada.

 

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