sexta-feira, 25 de maio de 2012

MALDITA CHAMPANHA - Capítulo 23


Capítulo 23

Quico estava com fome, afinal, era muita champanha para pouca proteína. Baixamos de táxi porque eu não queria dar chance pro azar de novo, vai que fura um pneu e eu, na rua, sem estepe, por aí, largada, com um amigo gay pra ajudar a pedir ajuda? Não. Tô fora. Quico queria comida chinesa, mas eu disse não. Eu queria algo mais massudo. Me deu a louca e pedi pra descer num bauru. Em Porto Alegre é assim, lugar onde tem bauru a gente chama de bauru. E bauru é um pão cervejinha, um pão que parece uma bunda com um rego fundo, enoooorme, com um bife enooorme dentro e cebola e queijo e, se quiser ovo. É um absurdo. Quico me olhou com um olhar de quem diz goooorda, mas desistiu de falar. Ficou na porção de fritas, nervoso mergulhava as batatas no fundo do pote de maionese, que veio junto com o meu bauru e eu devorei como uma cavala, cansada que tava de ver tanta gente, os espanhóis, comendo carne e eu só na salada e na enganação. Fodam-se os pneus que podem inflar. Amanhã eu furo eles caminhando no Parcão. Dou um jeito. Durmo um dia todo. Não como nada na semana que vem. Vivo de água e bolacha integral. Dane-se! Esse é o melhor lanche janta que fiz nos últimos anos. Dane-se o bafo de cebola. O cheiro de carne. Léo, me espera. Caminhamos um pouco e paramos num posto de gasolina. Compramos garrafinha de champanha e vamos bebendo pela rua como se fossem long necks.

Estava tão bom caminhar pela rua e pela noite que tinha ficado tão fresca e iluminada que não dava vontade de pegar outro táxi, outro stress, outro sujeito contando, falando, enchendo, saindo e entrando em curvas, que decidimos fazer o resto do caminho até a festa a pé. Não era muito longe. Só umas três ou quatro quadras. Como se fosse verão e eu voltasse a ser adolescente em Capão da Canoa, Atlântida, quer dizer. As noites na praia, alguns quilômetros pela noite, bebendo capeta e falando bobagens com os guris da rua. Tudo era festa no verão e nós éramos garotas estúpidas de classe média somente querendo beber longe dos pais e fazer fiasco. Quico completou. Era mesmo bom no verão, não é? Não sei como ele chegou no comentário que eu esperava, afinal, eu só estava pensando e não contando, como conto para vocês, mas Quico sentia o mesmo que eu, só que com um ar de nostalgia reprimida. As suas lembranças eram truncadas pelo preconceito. Me deu a mão e começou a pular e rir. Tu pegou dinheiro, doida? Não. Quem pagou a conta no bauru? No posto sei que tu pagou no cartão, mas quem pagou meu lanche? Quico riu mais alto. Ninguém. Soltou minha mão e saiu cantando na frente: De jeito maneira, não quero dinheiro, quero amor sincero! E ria como uma criança em pleno verão. Um adolescente bêbado em êxtase pela beira-mar fria e agitada do litoral gaúcho.

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