sexta-feira, 18 de maio de 2012

MALDITA CHAMPANHA - Capítulo 21


Capítulo 21

João pega um táxi para buscar seu carro e, depois, quem sabe, passar no seu trabalho pra enganar que passou o dia numa obra. Homem cafajeste sempre arranja desculpa. Nem que seja tão furada que pareça verdadeira. Essas são as melhores. Eu e Léo vamos em outro na seqüência. Direto para o estacionamento. O funcionário, com a mesma cara de sono da manhã. Fumava o mesmo cigarro. Mas me olhou diferente quando cheguei com Léo. Abrimos o porta-malas e conferimos o estepe. Estava inteiro. Nem pensamos muito pois as nuvens de chuvas se dissipavam e tínhamos um pneu de carro para trocar. Tínhamos, não. Léo tinha. Ainda bem que usávamos o mesmo tamanho de pneu, acho que é tamanho que se diz, e Léo ficou depois de me comprar um estepe novinho. Ele tirou o paletó, nem me dei conta que ele usava um. Logo eu que odeio esses chatos de paletó. que sempre fui a rebeldosa que queria um Stone pra me levar embora. Tá, poderia ser um desses Galagher feioso também, desde que me levasse para sempre numa louca aventura romântica. Léo agora está ficando com a barba escurecida. Um cheiro de homem limpo que vai suando aos poucos. Eu floreando sobre nhaca e ele ali de mecânico trocando aquele pneu furado. Por companheirismo, aguardei. Assim que terminou nos trocamos números de celular e ele prometeu que me ligava. Pensei que ia me cumprimentar com um beijo, mas não. Se moveu para o lado, entrou no carro e depois levantou a mão esquerda e sorriu para mim, eu, estatelada do outro lado da rua acendendo um cigarro, agora sim, da marca que eu fumava quando não era ex-fumante, e levantando o braço com o cigarro aceso de volta. Terminei de fumar e voltei voando para a agência.

Cocó nem se importou de me ver chegar mais que depois dele, com outra roupa e ainda fumando o cigarro que acendi no térreo. Entrei prédio a dentro fumando. Antes passei pela faxineira, Kátia, o nome dela, e lhe devolvi as sandálias emprestadas. Agradeci e ela disse um "não tem de quê" tímido. Agora eu tinha uma bolsa de novo e uma mulher sem bolsa não é uma mulher completa. Uma mulher tem que ser muito homem para sair sem bolsa, mãos nos bolsos, fumando um Marlboro e fazendo barulho de quem tira carne dos dentes com a língua. Tá, exagerei. Cocó se levantou e veio até a minha mesa todo desejoso. Nem me deixou sentar e já me mostrou o local onde os espanhóis tinham assinado o contrato. Disse que eles estavam muito excitados e queriam uma festa mais pesada. Fiz uma cara de quem diz. Mas não é num puteiro, não é? Não era. Eles queriam dançar a valer e eu era a convidada mais que especial. Pensei se Léo estaria na festa. Mas não perguntei. Paulo passou depois mesa por mesa e cumprimentou a todos. A partir da segunda teríamos muito trabalho, mas hoje era dia comemorar. Abriu uma champanha e me obrigou a tomar um gole. Tomei uma garrafa. Tinha que dirigir até em casa, tomar um banho. Me arrumar. O estagiário, o tal Pe, pa, seiláquemé, me olha e eu puxo do bolso o dinheiro que a trouxa, quer dizer, a mulher do safado que eu nem quero mais lembrar e acabei não dando nada ontem de noite porque o incompetente nem me comeu, me deu. Ele pega e me dá um beijo na bochecha. Ele é tão fofo! Pára, Marina. Nada de mulherzice agora. Concentração. Sorrio de volta e agradeço o empréstimo e o beijo. É tão bom tratar bem uma mulher. Os homens, ou os que acham que são, tem esse costume de nos desdizer. De nos passar pra trás. Mas não queremos bananas, pelo menos eu não quero, subservientes. Queremos alguém que nos trate com carinho, atenção e que seja um pouco tarado, óbvio. Sempre me envolvi ou me apaixonei, ou os dois, pelos canalhas e algumas vez ou outra por um banana, o que deu no final era que o banana era tão ou mais canalha que o original. Pelo menos o original era o que era. O banana é o que não tem coragem. E existem aqueles homens que não são nem canalhas, nem bananas e nem a mistura dos dois. Existem os verdadeiros. Muitas vezes confundimos eles com canalhas. Ou com bananas. Mas não. São apenas situações. Tudo depende de como a situação se cria e se perde. Os verdadeiros não criam. Nem perdem. Eles simplesmente deixam estar.


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