terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Mate o Machado de Assis Que Existe em Você

Sim, se você já está enturmado com o pessoal das letras, ou da literatura, ou simplesmente você acha que faz parte disso, ou de algum movimento (que não existe), já escutou mais de algumas (muitas) vezes os outros (e até você mesmo): "Ah, mas é Machado". A intimidade permite que você, e os outros, tratem Machado de Assis assim. Simplesmente Machado. É preciso que você termine com essa promiscuidade.

Claro que tem aqueles que falam em Joyce. Se você for muito novato no assunto, afinal estudou em um colégio normal brasileiro, aquela coisa, O Cortiço, A Moreninha, deve imaginar se estão falando daquela cantora que sua mãe ou sua avó escutava. Não. Não é a Joyce. Nem a cronista de coluna social que fez uma revista com o próprio nome. Nada disso, Joyce é o cara que escreveu Ulisses. Como assim você não leu Ulisses? Ãhn? Saia daqui, você está por fora!

Não. Ainda não. Ulisses não é aquele velhinho que aparece nas fotos de políticos antigos e que seu pai diz que poderia ter sido presidente. Não. Ulisses poderia ser o personagem daquele filme B italiano que você já viu na sessão da tarde. Sim, ele tinha que lutar contra muitos monstros pra sair fora de uma roubada com muitas aventuras no mar e uma sereia que era da pesada, não é? Mas não é também. Ulisses é o livro que todos leram. Todos que interessam. Todos menos eu. E você. Não se preocupe. Deixe ele e Joyce, James, o escritor, pra quem entende. Ninguém.

Voltando ao assunto de hoje, claro que você deve ter lido ou tentado ler algo que Machado de Assis escreveu. Tem ótimos contos, eu gosto do Alienista, tem gente que odeia, mas faz tanto tempo que li que não lembro mais se gosto, livros modernos pra época, imaginem que o cara escrevia capítulos curtos na primeira pessoa (oh, que novidade, mas na época era quase um herege, tipo, Joachim Proenix, tá ligado?), e chatices memoráveis. Sinceramente, eu tento ler Capitu e quero que ela vá tomar no cu. É uma história de amor e cornitude e neguinho transforma em tratado da humanidade? Não existem tratados sobre a humanidade. Megalomania de professores que não fodem direito. Existem histórias. Algumas bem contadas.

Mas é essencial para ser pop que você assassine o Machado de Assis que existe em você. Esqueça. Não caia em seus paradigmas. Não o cite. Não se prenda a ele. Mesmo finja que você nunca leu nenhuma linha dele. Por final, se quiser realmente provocar, odeie Machado de Assis.


Resumindo, deixe as batatas para os machadianos.

Você perdeu.

Você é pop.

2 comentários:

  1. Há um bullying MILENAR contra quem curte Joyce. O cara só requer disposição e uns hiperlinks. E depois é esquecê-lo, ou a saída é o 38. Esse lance de que é bacana ser loser, e foda-se o resto, eu nunca entendi. Tem que matar o Machado, depois de ler, e os outros também, ou o cara vai virar um papagaio, como é o caso de um certo amigo meu, escritor, cretino, mau caráter e boa-vida, que imita até hoje três autores policiais e se acha o máximo. Ter cara de mau, ser um pouco doido e adictos, todos nós que escrevemos somos. Difícil é fazer uma obra. Beijoca na bochecha cervejeira. LBS

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  2. Bom, acho que você já citar as batatas e o Ulisses já mostra que não é possível matar o Machado dentro de si, né? O problema não é Machado, ou os pseudo-intelectuais: é a imitação. Machado era "pop" no tempo dele... até onde era possível ser pop no século XIX. O problema é a imitação que veio depois, e não só de Machado. Também acho que ele é superestimado, mas tem bastante coisa que eu gosto também - e Dom Casmurro não é uma delas.

    @leonardo: "Tem que matar o Machado, depois de ler, e os outros também, ou o cara vai virar um papagaio". Também acho!

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