quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Todo Romance é Histórico

Nós, escritores urbanos da América Latina, brasileiros no que nos interessa, devemos tentar ao máximo escaparmos de associações históricas e localistas com que nossos críticos (se é que eles ainda existem) e os estrangeiros analisam o que captam de nossa literatura.

Obviamente o que mais saiu da América do Sul, fora Machado de Assis, foram os incautos escritores de literatura fantástica. Falo incautos porque se soubesse onde estavam entrando, não tinham entrado. Pegarei como exemplo quem eu realmente gosto de ler o que escreveu. Julio Cortázar. Pois bem, Cortázar escreveu histórias com situações absurdas, das melhores, mas também escreveu belos, odeio este adjetivo, vamos mudar, ótimos contos que se passam em Paris, Buenos Aires, etc. e são histórias urbanas, de pessoas que se amam, brigam, trabalham, bebem, etc. Só que o resenhista, maledicente e preguiçoso, lembrará apenas de suas histórias fantásticas onde homens repetem números ou criaturas coabitam em um universo paralelo.

Quando for escrever sua historia, partindo do pressuposto que você é um escritor, pode ser que uma vontade imensa de fazer com que uma mulher voe ou que tenha uma chuva de Cadillacs na cidade aconteça em suas histórias, controle-se. Pode escrever. Mas contenha-se. Não deixe que o fantástico entranhe em você e o resenhista filho da puta e mal pago acabe com sua carreira de escritor o jogando no limbo da literatura latino-americana.

É muito fácil ele fazer isto. É simples. Se você é um mulatinho ou um hispânico, claro, que não tem uma vida urbana ou histórias para contar como quem vive em New York, Paris ou Londres. Isso é o que eles querem que você pense. Mas tem. Seja em São Paulo, Cuaibá ou Garanhuns. Vivemos numa sociedade urbana. Deixe os romances históricos para os roteiristas da Globo. Aliás, estabeleça uma nova ordem nessa porra toda. Todo romance é histórico.

Claro que sim! Se eu escrevo agora uma história que se passa em Porto Alegre com linguagem dos anos 2010 de Porto Alegre e locais, pessoas e situações urbanas de Porto Alegre desses anos, é um romance histórico. Ainda não é. Mas se sobreviver aos bits e bytes do futuro, será. Todo romance é histórico. Mande aquele cara que estuda, e ainda bem que ele estuda, e escreve um romance sobre a Revolução Farroupilha cagar no mato se ele se auto-proclama superior.

Acredite, existem escritores que só consideram alguém escritor se tiver lançado um romance. Vou contestar mais adiante o quesito lançamento, assim como os quesitos editoras, impressão e outros, pois a literatura pop pretende transcender, na verdade se apropria da transcendência que já acontece, estes conceitos estanques e paradigmáticos do escritor contemporâneo. Escritor é quem escreve. Assim como guitarrista é quem toca guitarra. Se ele só toca covers, toca mal ou faz péssimas melodias, foda-se, mas ele é um guitarrista.

Assim você também é um escritor quando se propõe a criar uma história fictícia, baseada em fatos reais ou não, com acontecimentos plausíveis ou impossíveis ou inexistentes, dane-se, você criou um universo através das letras assim como um compositor, um pintor ou mesmo um web designer criou um mundo próprio somente com a imaginação. Quem coordena tudo, ainda, é a imaginação. A técnica é, e sempre será, técnica. Mas boa parte do que chamam técnica nasceu de transgressões às técnicas anteriores. Basta não se deixar cair nos guetos. A literatura fantástica ou o romance histórico são alguns deles.


Visite os guetos. Mas não more lá. Ou tente não morar.

A literatura pop agradece.

Um comentário:

  1. concordo plenamente com o que vc diz cara.Se o cara escreve contos semificcionais ou não,de duas ou 200,300 400 páginas,é escritor do memso jeito e ponto!

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