sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Literatura Pop

Claro, você pode se perguntar, quem é este carinha para falar de literatura pop se eu nem sei quem ele é, não é? Pois é. Aí que está o começo. Para ser pop não é necessariamente preciso ser conhecido. Basta estar inserido dentro da cultura pop. Conhecido já entra em outra classificação, a de famoso. Outra hora falaremos dos famosos. Por enquanto hoje falaremos do que quero dizer com literatura pop.

Literatura é literatura. Simples. Assim como música é música. Uso a música como parâmetro pois é a arte que mais atrai, apesar de eu não ser músico e nem ser capaz de tocar aceitavelmente qualquer instrumento musical. Mas a música escrita por um grande compositor 200 ou 300 anos atrás é tão música quanto a que o seu vizinho faz agora estourando os seus ouvidos. A diferença está na qualidade, obviamente, mas também a diferença está em quem cria a diferença. A música era presa a poucos quando surgiram aparelhos que reproduzissem música. Assim negros que colhiam algodão puderam propagar para lugares que jamais imaginaram ter suas músicas ouvidas. O que mudou foi a distribuição. E quando a distribuição se alterou por conta da tecnologia, o que antes nem se sabia que existia, agora era música. Simplificando e resumindo, é isso.

A literatura até a alfabetização em massa dos grandes centros populacionais era algo restrito a poucos. Mas, mesmo assim, uma rádio propaga música para milhares, milhões, e pelo preço de algumas pilhas, enquanto a literatura fazia com que o leitor tivesse que procurar o livro. O livro tinha que ser impresso. Distribuído. Vendido. Digo tinha porque também a literatura está tendo a sua distribuição alterada numa velocidade cada vez maior. Obviamente isso cria quebras de protocolos rígidos que foram impostos por séculos de preconceitos. A literatura não é para qualquer um, dirá um escritor mais clássico. Sim, assim também diziam os músicos ao ouvir os brancos que piravam no jazz ou os negros que pululavam no blues rural norte-americano ou enclausurados intelectuais ao escutar populares dançando em uma roda de samba.

Daqui a pouco você poderá se perguintar. Peraí, esse cara vai dizer que música sertaneja é música. É. Se não é o do teu gosto, foda-se, mas música é. Assim como literatura é tudo aquilo que ao se propagar é lido como ficção e aceito pelo público. Sim. Pelo público. Claro que vai ter gente trancada em casa escutando música eletrônica baseada em algoritmos. É música? Também é. Mas certamente terão aqueles que dirão: Isto é música, isto não é. Não lhe dêem créditos! A propagação em massa nos traz o que é potencialmente bom e o que é potencialmente péssimo. Mas é a propagação que nos faz ter o direito de escolha. Não deixem que outros escolham por vocês. Nem o que vocês devem ler e nem o que devem escrever.

A literatura pop parte deste princípio. Propagar. Propagar literatura urbana contemporânea fora dos padrões da classe média que a propaganda quer nos fazer engolir. A classe média desesperada. A classe média consumida no meio de uma montanha de conceitos, de falácias e de destruição de valores atemporais. É um mundo sem perspectivas onde o que nos resta é a procura do outro. A procura da sobrevivência. A procura de um amor verdadeiro e icônico que no fim vai ser desmontado pela própria iconoclastia da literatura pop. Parece confuso? É. Esqueça tudo o que sabe. Basta saber escrever. Assim como para fazer música é preciso saber tocar bem um instrumento, mesmo que vocês não gostem da música que tocam, para ser um escritor pop é preciso saber escrever bem. Se o resultado não for do gosto de ninguém e nem popular, foda-se. Não se assuste com as palavras que vierem dos "entendidos". Serão apenas palavras fascistas de quem quer criar um mundo próprio de mentiras e regras. Não existem regras. Quer dizer, existem. Mas não as respeite. Isso é ser pop.

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