Capítulo 25
Minha cabeça doía e eu não sabia
onde estava. Era um quarto. Mas um quarto aonde minha cabeça ainda
tentava entender o que era. Não era de motel. Não tinha tevê
pendurada, espelho grande na parede ou no teto e muito menos tinha um
aparelho de televisão. Uma brisa leve entrava pela janela, a luz do
sol entremeada por pedaços de cortina esvoaçando. De longe um som
de música, Lou Reed se é que meu cérebro não virou uma geleia.
Alguém cantarolando sozinho, quer dizer, fazendo uma segunda voz em
cima da do Lou. Satellite of looove!
Satellaaaaai! No quarto nada que me indicasse com
quem diabos eu tinha dormido. Se eu tinha trepado. Estava nua. Mas as
roupas não estavam no quarto. Fora isso o torpor da ressaca e a
vontade louca de tomar uma Coca-Cola me impediam de imaginar o que eu
sentia. Pelo menos minha carteira estava do lado da cama e um
isqueiro, que não era meu pois eu não tinha comprado isqueiro, se é
que não comprei. O vento começou a vazar mais forte pela cortina e
fiz menção de me levantar e encostar o vidro, mas a preguiça
venceu. Era divertido curtir o vento desenhando formas pela fina
cortina da janela enquanto eu sentia a nicotina entorpecendo meus
pulmões. Respirei fundo e esperei. A música que vinha pela porta,
era outra, alguém, o alguém que eu estava junto, tinha colocado uma
coletânea, por certo. Agora era um Hey, sugar,
take walk on the
wild side. A festa deve ter sido boa. Minha
garganta ardia. Quase certo que era azia de champanha. Os pés do
alguém, descalços, foram chegando mais perto. O alguém apareceu
contra a luz da porta e eu não enxerguei de cara quem era, a visão
ainda turva do sono. Dormiu bem? Me perguntou a voz. Sim, respondi
sem pensar. Chegou mais perto. Era Léo, vestindo um jeans e a camisa
aberta. Numa das mãos carregava uma caneca e noutra um copo. Coca ou
café? Perguntou. Coca, respondi. Ele se aproximou e me entregou o
copo. Começou a beber do café. Pegou o cigarro da minha mão e deu
uma tragada. Não sabia que ele fumava. Ou não lembrava. Pensei em
falar, mas não falei. Ele riu pra dentro, baixinho, quase
silenciosamente. Um sorriso lindo. O mais lindo que eu poderia
esperar. A boca dele é linda. Seus olhos castanhos brilham e ele os
deixa de fora por entre o vapor do café. A fumaça de cigarro que
sai pelas minhas narinas não é a mesma de ontem. O vento que agora
bate em meu rosto é diferente. As paredes não são tão paradas e
vazias como eram antes. Minha sede é maior que jamais foi. Minhas
pernas tremem. Sinto o vagar dos anos que ainda não vivi. Ele tira a
caneca do rosto e abre um sorriso sem dentes. Um sorriso safo. Pega
na minha mão e acaricia meus dedos. Terminamos nossas bebidas e ele
senta ao meu lado, braços pra trás. Me aconchego em seu peito e ele
me abraça. Ele vai falar, mas eu tapo sua boca com minha mão
direita. Não fala, digo. Ele não fala. Me enrosco em suas pernas e
fecho os olhos. Bendita champanha.
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