quarta-feira, 6 de junho de 2012

MALDITA CHAMPANHA - Capítulo 25 (ÚLTIMO)


Capítulo 25

Minha cabeça doía e eu não sabia onde estava. Era um quarto. Mas um quarto aonde minha cabeça ainda tentava entender o que era. Não era de motel. Não tinha tevê pendurada, espelho grande na parede ou no teto e muito menos tinha um aparelho de televisão. Uma brisa leve entrava pela janela, a luz do sol entremeada por pedaços de cortina esvoaçando. De longe um som de música, Lou Reed se é que meu cérebro não virou uma geleia. Alguém cantarolando sozinho, quer dizer, fazendo uma segunda voz em cima da do Lou. Satellite of looove! Satellaaaaai! No quarto nada que me indicasse com quem diabos eu tinha dormido. Se eu tinha trepado. Estava nua. Mas as roupas não estavam no quarto. Fora isso o torpor da ressaca e a vontade louca de tomar uma Coca-Cola me impediam de imaginar o que eu sentia. Pelo menos minha carteira estava do lado da cama e um isqueiro, que não era meu pois eu não tinha comprado isqueiro, se é que não comprei. O vento começou a vazar mais forte pela cortina e fiz menção de me levantar e encostar o vidro, mas a preguiça venceu. Era divertido curtir o vento desenhando formas pela fina cortina da janela enquanto eu sentia a nicotina entorpecendo meus pulmões. Respirei fundo e esperei. A música que vinha pela porta, era outra, alguém, o alguém que eu estava junto, tinha colocado uma coletânea, por certo. Agora era um Hey, sugar, take walk on the wild side. A festa deve ter sido boa. Minha garganta ardia. Quase certo que era azia de champanha. Os pés do alguém, descalços, foram chegando mais perto. O alguém apareceu contra a luz da porta e eu não enxerguei de cara quem era, a visão ainda turva do sono. Dormiu bem? Me perguntou a voz. Sim, respondi sem pensar. Chegou mais perto. Era Léo, vestindo um jeans e a camisa aberta. Numa das mãos carregava uma caneca e noutra um copo. Coca ou café? Perguntou. Coca, respondi. Ele se aproximou e me entregou o copo. Começou a beber do café. Pegou o cigarro da minha mão e deu uma tragada. Não sabia que ele fumava. Ou não lembrava. Pensei em falar, mas não falei. Ele riu pra dentro, baixinho, quase silenciosamente. Um sorriso lindo. O mais lindo que eu poderia esperar. A boca dele é linda. Seus olhos castanhos brilham e ele os deixa de fora por entre o vapor do café. A fumaça de cigarro que sai pelas minhas narinas não é a mesma de ontem. O vento que agora bate em meu rosto é diferente. As paredes não são tão paradas e vazias como eram antes. Minha sede é maior que jamais foi. Minhas pernas tremem. Sinto o vagar dos anos que ainda não vivi. Ele tira a caneca do rosto e abre um sorriso sem dentes. Um sorriso safo. Pega na minha mão e acaricia meus dedos. Terminamos nossas bebidas e ele senta ao meu lado, braços pra trás. Me aconchego em seu peito e ele me abraça. Ele vai falar, mas eu tapo sua boca com minha mão direita. Não fala, digo. Ele não fala. Me enrosco em suas pernas e fecho os olhos. Bendita champanha.


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