quarta-feira, 22 de junho de 2011

Zero-Zero e o Bizarro

Ontem recebi meu exemplar da antologia Geração Zero Zero, Fricções em Rede, organizada pelo Nelson de Oliveira e lançada pela Língua Geral, da qual faço parte. Tirando a antecipada polêmica do conceito de geração, de como foram selecionados os autores e da, claro, arbitrariedade que vem dessa escolha, prefiro antes de tudo falar sobre o ponto em comum evidenciado pelo Nelson de Oliveira ao explicitar características da geração por ele reunida em 20 e poucos autores mais representativos. O triunfo do bizarro.

Nem vou entrar em detalhes do significado da palavra "bizarro". O bizarro convencionalmente é o estranho. O estranho só é estranho em relação a algo. Neste mundo pós-tudo e pré-tudo, pois obviamente estamos numa acelerada mudança de costumes e verdades, o bizarro se confunde com o cotidiano. Tudo é novo, é estranho, é normal e, por isso mesmo, é bizarro.

Claro que existe o bizarro clássico. Em um dos contos que escrevi para a antologia o personagem começa a suar ratos. Suar ratos realmente é bizarro em todos os sentidos e épocas. Ninguém sua ratos. Obviamente também ninguém vira zumbi, por exemplo, ninguém ressuscita dos mortos, e os filmes de zumbis, alguns baseados em games, estão por aí fazendo sucesso, o que me lembra um fato acontecido comigo mesmo.

Estava eu no Bambu's, um bar fedido da Alberto Bins em Porto Alegre e na minha mesa encontrava-se o Hermano e sua namorada Gabi. Por baixo da minha camisa aparecia uma corrente que volta e meia saltava para fora. Gabi, tendo lido alguns contos meus, e já tendo uma ideia, pré-concebida, sobre mim, perguntou porque eu usava aquela corrente. Era uma corrente com um crucifixo na ponta. Tu é católico? Perguntou. Sou, respondi. A reação dela foi de estranhamento.

Obviamente pelo conceito atual Jesus Cristo é um zumbi. Afinal, levantou-se das catacumbas e saiu por aí a pregar seu Evangelho. Mas não é isso que interessa agora. O que interessa é que ali se estabelecia o bizarro da cena. Marcelo Benvenutti, que escreve sobre bêbados solitários, gente "doida" e quetais, um profano e herético, anda com um crucifixo no peito e se diz católico. O bizarro quebra os conceitos. E os preconceitos. Ele deforma a leitura para melhor entendermos o normal. Ou pelo menos questioná-lo.

Dentro desta ideia de bizarro, a quebra, a ruptura, concordo com Nelson. Não conheço o texto da maior parte dos autores da antologia. Não conheço nem eles. Tirando 5 ou 6 que conheci pessoalmente, quase não mantenho contato com nenhum. Mas conheço muitos dos que já estiveram em antologias anteriores. Li alguns. Não sou nenhum estudioso dos meus contemporâneos como o Nelson. Longe de mim. Mas quando gosto de algo, certamente se insere nesse conceito, vago e confuso, claro, de bizarro.

A quebra, a ruptura, o estranho entre nós. Esse algo que perturba e instiga e pressupõe que estamos perdidos em um mundo convulsionado. Não existem verdades absolutas. Nem mentiras. Quando o bizarro se torna comum, o comum é bizarro. Sobre isso que falamos. E também sobre amor. Mas isso sou eu que falo. No fundo é tudo sobre amor. Mesmo que alguns ainda achem que é sobre política. Amor e política se confundem. E isto também é bizarro. Foi assim que comecei a rargar cartazes. Mas isso é outra história. Que conto outro dia.

Dia 12 de julho na Palavraria da Vasco, em Porto Alegre. Espero vocês lá. Ou me deixem sozinho. Não será bizarro. Acreditem.

Nenhum comentário:

Postar um comentário